NÃO SOU GAY - CAP. 5

    Até hoje eu não sei, e nunca indaguei para Marcus, o que ele foi fazer na sala do professor de história. Ele, Marcus, apareceu na porta e olhou a cena: eu estava de frente para ele e vi seu rosto, seus olhos me encarando, Estevam, o professor, estava de costas para a porta e de frente para mim, então apenas eu conseguia ver seu pau sendo acariciado em suas mãos. Naquela situação eu mal estava pensando, mas era um lindo pênis.

— Professor? — chamou Marcus, com seus olhos em minha expressão de medo. De repente a sala fechada ficou escura demais e pelas janelas não se entrava qualquer ar. Eu estava suando e respirando com dificuldade. Meu coração estava parando de bater acelerado para ficar calmo demais. Resumidamente, estava passando mal.

— Marcus! — o gritei dali de dentro. Eu precisava de um herói e ele apareceu exatamente quando eu mais careci de um anjo da guarda.

Ao ouvir meu grito e perceber que o professor não o iria atender, Marcus começou a bater o ombro na porta de madeira. Eu não sabia quem era mais forte: a porta ou Marcus, só sabia que Estevam não parava de se aproximar de mim. Seu rosto só dizia uma coisa: não importava o que estava acontecendo, ele iria terminar o que começou.

Não sabia, também, quanto tempo levaria para mais alguém chegar ali ou até a porta finalmente ser aberta.

Passaram-se os piores momentos da minha vida e exatamente por esse motivo vou passar a narrativa para o momento em que Marcus conseguiu entrar.

— Sai de cima dele! — ordenou meu herói, andando a passos largos. Os pés batiam com força no chão. Ele marchou até a mesa que Estevam me prendeu e o puxou pelo ombro.

Usando de sua agilidade, Marcus o virou e exatamente nesse segundo deu um gancho no professor. Ele caiu ali mesmo, sem se atrever a me tocar novamente. Eu estava preso na cadeira, o professor caído ao meu lado e Marcus defronte para mim. Olhando meu estado físico. O professor não havia tocado em minhas roupas, ele me acariciou e eu não estava tão ruim assim. Logo Marcus deu sua atenção para o professor.

Não sei se poderão lembrar de uma cena clássica de luta, onde o ganhador fica em pé ao lado do perdedor e cai sobre o corpo da outra pessoa, usando o cotovelo como arma. Foi exatamente o que Marcus vez. Mas tudo tão rápido, em segundos, na verdade, que o professor não conseguiu ter tempo de raciocinar de onde veio o soco e o cotovelo que levou no rosto.

— Vem — disse Marcus autoritário, assim que se levantou. Me senti tão infantil quando ele pegou minha mão e me puxou para fora da sala.

Saímos da escuridão e sentia uma brisa quente no meu rosto. Mas isso não ajudou muito. Andávamos no corredor rapidamente, não sabia para onde o outro estava me levando. O colégio estava deserto, apenas um ou dois faxineiros limpando as salas. Ouvi, distante e fraco, o canto dos pássaros nas árvores do outro lado do corredor. Mais à frente ficava o pátio e depois dele uma escada, no segundo andar a diretoria. Marcus marchou pelo corredor em direção ao pátio, ao perceber o caminho que estávamos fazendo o puxei para dentro de uma sala recém-limpa. Aproveitei que ele segurava firme em minha mão e o puxei.

O cheiro de lavanda invadiu meu sistema respiratório e naquele momento me senti vivo novamente.

— O que está fazendo? — indagou Marcus, soltando minha mão. — A diretoria fica lá em cima. Temos que ser rápidos, antes que aquele filho da puta fuja! — ele praticamente cuspiu.

— Não vou a diretoria — disse mais baixo do que ele, me sentei em uma cadeira e me empreguei a puxar e soltar o ar. Me concentrei em qualquer coisa para me distanciar do medo, olhei para Marcus, ele estava usando uma calça jeans e uma camisa branca, apertada em seus músculos, o ombro esquerdo estava sujo por causa da porta. A calça era muito apertada nas coxas, que por sinal eram enormes. Sua expressão de “sou melhor que você”, havia sumido, a boca era a representação perfeita da raiva. O nariz estava empinado a procura de justiça. Os músculos de seu rosto estavam todos rígidos, fazendo o queixo ficar perfeito, vermelho e com uma leve veia pulsando no pescoço.

Para minha sorte, me concentrar em Marcus, alguém tão lindo, levou meus pensamentos em outros lugares. Ele era um homem, e eu o admirava, isso foi capaz de me fazer sentir melhor e pôr as ideias no lugar.

— Tá, não vamos a diretoria, ir a polícia é bem melhor — ele sorriu para minha ideia.

Na verdade eu estava me sentindo ofendido demais para confessar o ocorrido a qualquer pessoa. E o que iria dizer? Eu fui na sala do professor depois da aula. Eu esqueci o caderno. Eu deveria estar em casa estudando. Toda a culpa cairia sobre mim. Diriam que o único motivo por eu ter deixado o caderno na sala foi para voltar e mexer com o professor. Tinha meus pais, meu pai principalmente, ele diria que eu gostei do que estava acontecendo, que era um doente. Tinha certeza que todos iriam colocar a culpa em mim, afinal eu não tinha levantado um dedo contra o professor. E eu o havia deixo trancar a porta. Isso era a prova final de que em um julgamento, ou algo do tipo, eu sairia perdendo e ainda mais ofendido da história.

— Não vamos em lugar nenhum — disse por fim. Marcus me encarou quase sem acreditar nas minhas palavras. Eu não queria ficar ali discutindo isso, depois que o medo me deixou, tudo que queria era chorar e deixar a raiva do momento passar.

— Nós precisamos ir na….

— Não tem nós. Esse é uma decisão minha e ficaria muito feliz se me deixasse em paz.

— Como é que é? Eu acabei de te tirar das mãos da porra de um professor tarado e você ainda me diz que a decisão é sua?

— Sim.

— Já sei — Marcus não queria desistir tão fácil. — Você está com medo de que ele saía ganhando, mas não se preocupe, eu vou testemunhar contra ele. Vou estar ao seu lado, eu vou fazer ele pagar.

Naquele momento percebi que minha vida, minha privacidade, minhas decisões, de um segundo para outro, estavam nas mãos de Marcus. E isso definitivamente não era o que eu esperava. Sempre gostei de ser independente e controlar minha vida. Ele me salvou, foi meu herói, mas não queria, e nem quero, ser dependente de qualquer pessoa.

— Eu não preciso de você — contra argumentei, o calando. — E se chegar a contar para qualquer pessoa eu nego tudo. Não tem provas do que aconteceu. Tenho certeza que o professor não vai me desmentir. Vai ser dois contra um.

Marcus me fitou sério, vi seu peito subir e descer enquanto ele pensava em alguma coisa. Finalmente ele disse:

— Quer saber, foda-se, faça o que quiser, seu merda.

— Não precisa começar a xingar — disse percebendo que a expressão de arrogância ganhava forma em seu rosto.

— Eu falo o que quero, como mesmo disse, eu mando em mim. Seu imbecil.

— Vai te catar — sabia que não era exatamente um xingamento, mas não queria entrar no que ele havia começado.

— Seu cuzão, da próxima vez não me chame para amarelar depois.

— Pode ter certeza que nunca mais vou chamá-lo, para nada.

— Acho bom, seu otário — Marcus me deu um empurram no ombro, me fazendo bater as costas na cadeira de uma forma rude. Me levantei rapidamente e o empurrei. Ele me deu um soco no ombro, não esperava por isso e senti uma imensa dor.

— Ai, seu filho da puta! — gritei me jogando para cima dele. Quando vi já havia levado outro soco. Eu não sabia e nunca aprendi a fechar minha mão e dar um soco em alguém, eu basicamente nunca havia brigado na vida. Tudo o que soube fazer foi fechar as mãos em volta do lindo cabelo preto de Marcus e arrancar um tufo, isso rendeu outro soco no meu braço.

— Seu viado escroto — rugiu ele, colocando a mão na cabeça e tirando mais alguns fios. Ele se preparou para dar outro soco no meu rosto, dessa vez tinha ficado sério. Contudo não o fez. Eu comecei a chorar, precisava ficar sozinho, tudo o que sentia era confuso e precisava desabafar. Marcus ficou me encarando, enquanto soluçava sentado novamente.  Ele deve ter percebido que eu havia atingido meu limite, para brigar ou conversar, ele finalmente entendeu que eu precisava ficar sozinho comigo mesmo. — Vou embora — e assim ele me deixou.

Me levantei e fui para casa antes que alguém me visse ali e começasse a fazer perguntas demais.

Soube mais tarde, que o professor sumiu do colégio. Nunca mais voltou para a universidade ou para o colégio, receber seu salário, ele literalmente sumiu do mapa. Quem sabe foi para outro país com medo de ir preso.

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