NÃO SOU GAY - CAP. 17
O dia 20 do mês de março do ano de 2008 foi um dia que marcou a minha vida. Nesse dia eu conheci uma pessoa que, com certeza, mudou a minha vida de uma forma que eu não imaginava. Essa pessoa me fez descobrir uma nova força de amor, um amor totalmente incontrolado, que nasceu do momento em que eu a vi e que nunca vai acabar. O tipo de amor de melhor amigo, amigo de verdade, preciosidade. Esse amor não veio de um homem, não foi o grande amor da minha vida, mas, sem dúvida, um dos mais marcantes deles. Esse amor veio da minha professora de história.
O dia começou como outro qualquer, todos os alunos ocuparam
os seus lugares enquanto esperávamos um professor substituto aparecer e ocupar
uma aula de história dando outra matéria. A pedido do diretor, todos os alunos ficavam
sentados, mostrando ser maduro para a situação, contudo a conversa não parava.
Toda a sala estava tomada de cochichos e gritos.
“Eu ouvi dizer que contrataram uma nova professora, para
ficar com a sala até o final do ano” comentou Helena, uma colega de classe.
Estávamos em quatro alunos na roda de conversa: ela, Fabrício, Teylon e eu.
“Eu já ouvi diferente, vai continuar sendo a professora de
geografia” disse Fabrício mexendo no seu celular.
Teylon começou a contar sua versão de quem seria o
professor, mas eu desliguei da conversa e comecei a prestar atenção no grupo de
Thales, César, Bruno e Kaique. Eles estavam conversando com o Weverton, um
aluno que nunca tive muita intimidade. Aparentemente eles estavam rindo, o garoto
não.
Toda a conversa morreu quando uma mulher baixinha entrou na
sala. Ela trazia um livro, fino, nos braços bronzeados. Usava um vestido que ia
até a canela, o tecido preto deslizava pelo seu corpo enquanto ela se dirigia
para sua mesa. O salto lhe dava alguns centímetros e vazia um som chato de
toque, toque.... Ela tinha o cabelo castanho, curto e crespo, e usava uns
óculos minúsculo na cara. O rosto era expressivo, os olhos severos fitaram toda
a sala que ia se silenciando, o nariz pequeno e redondo segurava os óculos. Ela
parecia ter pouco mais de 30 anos.
“Creio que todos estejam cientes da razão pela qual o antigo
docente afastou-se da classe. Isso me coloca em uma posição mais favorável. Meu
nome é Dorota, sua nova professora de história. O senhor diretor pede desculpas
por não estar aqui e realizar as apresentações, ele encontra-se muito ocupado
no momento” sua voz soava mais novem do que aparentava, uma voz meiga de uma
mulher de 20 anos. Eu já estava gostando dela.
A classe ficou em silêncio, analisando se iriam conseguir ou
não bagunçar durante a aula.
“Alguém poderia, por gentileza, me informar em que página do
livro vocês detiveram-se?”.
“Página 52, senhora” gritou uma aluna nerd na frente da
sala. Ela ofereceu o seu livro para a professora ver.
“Parece que o conteúdo está regular com o currículo...
hum... acho que vou recomeçar o capítulo, para deixá-los situados no assunto.
Se der tempo, no final da nossa aula, quero saber o nome de vocês. Vamos
trabalhar pessoal”.
A professor Dorota começou a ler o capítulo, em voz alta.
Todos ficaram em silêncio, exceto o grupinho de Thales. Os amigos começaram a
caçoar de Weverton em voz alta. Ele ficou de cabeça baixa, fingindo não estar
acontecendo nada.
De onde estava sentado, do outro lado da sala, consegui
ouvir a voz de Kaique: “me respondeu seu viadinho, já chupou um pau? Se não
disser nada é por que chupou, vai lá viadinho, me responde logo”.
Aparentemente não fui o único a ouvir as provocações, a
professora parou a leitura e lançou um olhar frio para a conversa. Ela colocou
o objeto de leitura sobre a mesa e pôs a mão na cintura, desafiando que eles
continuassem. Quando ninguém disse nada, ela falou, bem alto:
“A opção sexual dele,
ou de qualquer outra pessoa no mundo não interessa para ninguém, muito menos a
você. E não é motivo para qualquer um de nós o ofender por isso. Da próxima vez
que ouvir alguma ofensa desse tipo, vinda de vocês, vamos sair daqui e ir à
delegacia. Que fique claro: durante as minhas aulas não vou padecer de qualquer
forma de preconceito. Agora, senhores, por gentileza, se retirem os quatro da
minha aula.
Thales olhou para mim antes de se levantar. Logo tudo estava
verdadeiramente silencioso, dava para ouvir o coração dele batendo mais forte.
O seu pai iria brigar com ele, se eles ligassem para sua casa. O quarteto se
levantou e retirou-se da sala.
“Agora vamos voltar ao assunto da nossa aula”.
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