NÃO SOU GAY - CAP. 20

Graças a Buda, Thales e eu não fomos pegos por ninguém enquanto transávamos apaixonadamente e meio depressa demais. Assim que ele gozou, me levantei e fui me vestir. Não tinha onde tomar banho e não precisava mesmo, ainda estava cheiroso e não fedia a esperma.

'Vai na minha casa hoje a noite?' indagou Thales, me dando um beijo no canto de minha boca, ele estava com um halls preto entre os dentes e seu hálito fresco me deixou nas nuvens.

'Eu preciso pedir para o meu pai. Vou sair daqui meio tarde' tentei arrumar argumentos que o convencesse.

'Tudo bem' ele sorriu, compreensivo. 'Boa sorte na sua peça' Thales desejou, me dando um beijo e passando o halls para meus lábios.

'Obrigado, amor. Agora some daqui, antes que a gente seja pego e eu perco o meu papel' o que basicamente me dava forças para viver. Não poderia por isso em jogo, mesmo amando Thales como nunca amei outro homem. Meu primeiro amor!

Thales afastou-se com seu doce perfume. Enquanto ele saia, corri até a mesa, onde ele tinha colocado a caixa de chocolates e peguei um especialmente grande. O abri, ali mesmo, e dei uma farta dentada.

'Vem ver isso Rafa' sussurrou Thales, parado na porta, com a cabeça para fora.

Fui, então, até ele. Ao por minha cabeça loura no vão da porta vi que se tratava de Marcus e Kamylla. Então não foi graças a um milagre que Kamylla não entrou no camarim e me pegou com Thales, ela estava ali fora com seu namorado, aparentemente brigando. Isso a manteve ocupada.

Marcus alterou sua voz e Kamylla foi para cima dele, de unhas e dentes. A coisa estava ficando séria e ganhando novos espectadores.

'Já chega, vai embora, antes que minha diretora te veja' disse para Thales, o empurrando para fora do camarim. Ele, por sua vez, seguiu seu caminho, rindo da briga. Era claro, como a porra que escorria da cabeça do pau de Thales, que ele não ia nem um pouco com a cara de Marcus e vê-lo brigando o deixou feliz.

'O que está havendo aqui?' interrogou a diretora, com sua voz alta e autoritária.

'Parece que os pombinhos estão tento uma discussão amorosa' explicou-lhe uma mulher, vestida de preto, com certeza alguém da produção que estava ali se divertindo com a treta.

'No meu teatro só admito conflitos amorosos em cima do palco, e como o senhorzinho aqui não é nenhum ator, sugiro que vá embora. Só não o expulso a tapas, porque é um valioso atleta para o nosso colégio' disse a diretora, enquanto ela falava, pegou o braço de Marcus e o conduziu pelo corredor. 'Eu quero todos vocês prontos em cinco minutos, já perdemos tempo demais!' ordenou ela, se dirigindo a todos os curiosos.

 

*****

 

O ensaio terminou no horário de sempre. E eu fui para o meu ponto de ônibus, esperar uma terrível meia hora. Naquela noite, novamente, eu encontrei Marcus no ponto de ônibus.

Seu corpo moreno estava jogado de qualquer jeito sobre o banco, as mãos estavam entrelaçadas em seus cabelos negros, desfazendo seu penteado. O olhar arrogante estava perdido na escuridão diante do seu nariz fino. Ele parecia triste, um lindo ser de rosto jovial triste!

Como não poderia evitar o encontro, continuei a caminhar. Ao chegar no ponto de ônibus ele parecia não ter notado a minha chegada. Achei melhor assim e fiquei na minha.

Logo comecei a me questionar porque ele e Kamylla haviam brigado. Até onde meu conhecimento alcançava eles eram um casalzinho perfeito um pro outro. A talentosa e linda ao lado do supergato e campeão Estadual. Oque a relação deles poderia estar tendo de problemas?

E mais ainda, além dessa curiosidade, eu não havia esquecido que Marcus me ajudou no dia em que Thales me desprezou. Agora, portanto, eu não conseguia apenas olhar para Marcus ali, amuado em um canto, parecendo triste e solitário. Pobre alma.

'Marcus' olhei na direção dele, meio tenso e nervoso, ele tinha um grande gênio forte. Isso não era bom, ele com seu temperamento explosivo e eu com minha intolerância. Contudo já havia começado, não iria parar agora. 'O que aconteceu entre você e a Kamylla?'

A cabeça de Marcus se levantou em minha direção, seus olhos verdes encontraram os meus azuis, trêmulos e vacilantes. Eu praticamente conseguia ouvir ele me ofendendo, entretanto isso não aconteceu, ele não me xingou ou explicou o que havia acontecido, apenas voltou a encarar o chão.

'Poxa cara, conversa comigo' disse me sentindo extremamente magoado com sua ignorância.

'Para que quer saber? Pra sair fofocando amanhã na escola? Quer ter sobre o que futricar com seus amigos enxeridos?'.

'Para com isso, por favor, só estou tentando ajudar'.

'Quer me ajudar? Então se joga na frente de um ônibus e para de encher a porra do meu saco, seu mala do caralho. Pensa que só porque me viu brigando agora vou correr nos seus braços e ficar de melação? Se pensa isso está enganado, eu dou conta dos meus problemas sozinho!'.

Fiquei encarando o rosto severo de Marcus. O que ele disse realmente me deixou abalado, meu rosto ficou vermelho e senti que estava quase chorando de tanta raiva. Minha garganta estava queimando. Ele era mesmo um moleque mimado que não se importava o que fazia com as pessoas. Ele havia me ajudado quando eu estava mal, apenas quis retribuir. E era isso que eu iria ganhar? Não mesmo.

Me levantei e fui até onde Marcus estava, fiquei de frente para ele, com minhas mãos tremulas no bolso da bermuda jeans.

'Me pede desculpa, agora!'.

'Vai se ferrar' ele cuspiu.

'Estou te avisando, me pede desculpa' repeti sentindo raiva crescer em meu coração.

'Não vou pedir merda nenhuma'.

'Não vai?'.

'Já falei que não, porra' era exatamente isso que eu precisava ouvir. Tirei a mão do meu bolso e meti ela na cara de Marcus. Ele foi pego de surpresa e ficou sem reação por alguns segundos.

Eu não era palhaço para ele me tratar daquele jeito. Como fiz com Thales, eu não iria deixar Marcus passar por cima de mim para se sentir melhor.

'Eu não estou brincando, se tentar fazer isso de novo, juro, juro pela minha mãe, que eu te arrebento essa cara branquela. Seu filho da puta!'.

Foi automático, quando ele xingou minha mãe afastei a mão e dei-lhe um tapa com força total. Marcus então não ficou mais parado, ele investiu contra mim: ele se jogou em cima de mim, abraçando minha cintura e me jogando no chão. Ficando por cima, ele enfiou o tapa na minha orelha. Que queimou. De onde estava só consegui bater minhas pernas nas costas dele.

Marcus, então, cerrou os punhos e armou um soco. Vendo o que estava acontecendo, usei os bons reflexos e segurei seu braço a tempo. Por instinto fiz o mesmo com o outro braço, no exato momento em que iria levar outro soco. Então começou a nossa briga para ver quem iria conseguir segurar quem. Ele sabia que se eu o mantivesse assim poderia continuar batendo o meu joelho em suas costas, então ele não estava em uma posição favorável.

Percebendo que eu o iria manter preso, Marcus rolou para lado. Eu fiquei em cima dele. Ainda, não sei como, segurando em seus braços. Ele estava com o rosto vermelho e a minha orelha estava muito quente. Nossas roupas estavam todas sujas de cigarro, terra, e outros lixos.

'Eu vou acabar com sua cara' ele prometeu, cuspindo fogo.

'Não se eu acabar com você primeiro' eu disse, rindo por estar em cima das pernas dele, então Marcus não conseguia me bater. Eu ainda estava na vantagem.

Tentando um novo movimento, Marcus conseguiu soltar sua mão. O soco veio como uma bala na minha direção, mais uma vez usei os reflexos e me esquivei. Sem querer perder a chance, Marcus segurou em meu pescoço, me puxando para ficar mais perto dele. Meu rosto e o seu ficaram separados apenas por nossas mãos atarracadas.

De repente percebi o quanto minha boca estava perto da de Marcus, e ele continuava a me puxar contra o seu corpo, tentando machucar o meu pescoço. Marcus conseguiu soltar a outra mão e deu um soco nas minhas costelas. Com a dor eu parei de resistir ao puxão que ele dava em meu pescoço e meu corpo foi contra o dele em uma batida feia.

Meus dentes doeram, e doem até hoje, ao baterem nos dele. Nossas bocas começaram a sangrar. Sem entender o que acontecia, eu fiquei em cima do corpo de Marcus, com minha boca enterrada na dele.

Marcus preparou-se para me bater novamente, contudo, em segundos, senti braços me puxando para longe dele. Olhei preocupado ao meu redor e encontrei Thales parado ao meu lado. Ele colocou a mão na minha boca e percebeu o sangue, de imediato ele foi pra cima de Marcus.

'Não faça isso, Thales' eu disse, o segurando pelo braço.

'Esse idiota merece apanhar, olha o seu tamanho perto dele' bufou Thales, investindo contra Marcus, que se recuperava rapidamente.

'Eu estava cuidando de mim mesmo' disse, fazendo força para que ele ficasse do meu lado.

'A gente se vê amanhã, quando seu namorado não estiver por perto para te salvar' prometeu Marcus, pegando seu celular em cima do banco e descendo a rua, esquecendo do ônibus.

'Eu vou acabar com esse cara' garantiu Thales.

'Olha aqui, se você tocar um dedo no Marcus, ou mandar seus amigos fazer isso, a gente termina. Tá me ouvindo? Eu não começo uma briga para nenhum herói terminar por mim. Sou muito capaz de lidar com ele. E, em todo caso, quem começou a brigar fui eu. Ele xingou a minha mãe e dei um tapa na cara dele'.

Thales me abraçou, com um sorriso no canto da boca.

'Desde quando o cara frágil que eu pedi em namoro virou um lutador?'.

'Desde que ele percebeu que o mundo quer passar em cima dele todos os dias. Eu estou fazendo o que todos deveriam fazer, erguer a cabeça, enfrentar os problemas e evoluir'.

'Eu sinto que quero te proteger, é minha obrigação, como seu namorado, dar uma lição naquele cara' Thales se afastou um pouco, com seus braços negros envolvidos em meu corpo. Apenas o toque dele é capaz de me excitar. Sua pele roçando a minha me provoca grandes emoções.

'Você vai ter a oportunidade de bater em muitos outros idiotas, mas esse é meu, ok?'

'Ok' ele voltou a me abraçar, beijando meu rosto. Depois Thales tirou sua camisa, exibindo seu abdômen atlético, grande peitoral e braços largos e musculosos. Ele colocou a camisa com cuidado na minha boca ferida.

'Afinal, o que tá fazendo aqui?' indagay(guei) mordendo os lábios com a dor.

'Eu liguei para seu pai' Thales terminou de limpar o ferimento, depois passou o dedo no meu lábio superior.

'E?'.

'E ele deixo você dormir na minha casa. Sua mãe não gostou muito. Mas se quiser podemos ir para minha casa repetir o que fizemos hoje mais cedo' um sorriso safado brilhava no rosto de Thales.

'Mas e seus pais?'.

'Eles estão fora, visitando uma tia minha que acabou de ganhar o bebê. Só vão voltar na segunda da próxima semana' ouvindo isso foi a minha vez de exibir um sorriso safado. 'Seus pais acham que eles estão em casa, eu dei o celular pro Bruno e ele fingiu ser meu pai'.

É claro que eu iria para a casa do meu namorado. Eu o amava e agora tínhamos a oportunidade perfeita de voltar a ser o que éramos antes.

'Eu te amo' disse para Thales, rindo e o beijando.

'Eu te amo' ele repetiu, sorrindo.

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