NÃO SOU GAY - CAP. 26

     Lá estava eu, sentado na frente do meu espelho, passando maquiagem conforme fui instruído. Por falta de verba não havia pessoal para cuidar de todos os atores, no meu caso eu mesmo conseguia atingir o ponto ideal da maquiagem sem pesar demais nos olhos ou batom. Anos de teatro servem de alguma coisa. E no final, de qualquer madeira, a diretora iria ver todos os personagens, mesmos os vestidos de árvores, para saber se eles estavam de acordo. Caso um olho ficasse diferente do outro, uma equipe reparava o estrago imediatamente, como a diretora mandava.

Terminei tudo o que precisava e fiquei olhando no espelho, recitando a última fala da personagem na minha cabeça. Estava nervoso, as mãos suavam com grande desespero. Suspirei profunda e lentamente. O meu dia havia chegado. Depois de todos os ensaios me sentia pronto, embora nervoso.

Estava saindo da minha cadeira para vestir o figurino, usava apenas uma cueca enquanto aprontava a maquiagem, quando a porta do camarim se abriu, era Kamylla. Ela entrou toda apressada, usando a camisola que Wendy usa na primeira cena. Ela estava bonita, a vadia, os cabelos soltos, dando destaque aos olhos. A boca estava com um batom discreto e infantil, mas destacada em seu rosto jovial.

"Estou muito ansiosa para começar logo" disse ela, simplesmente, sorrindo como se não fossemos inimigos até na Terra do Nunca.

Não respondi. Ela quem tinha deitado com o meu namorado, ela era a puta. Continuei na cadeira, mantendo a minha postura de superior. Essa vaca não iria me fazer perder a cabeça justamente agora. Ela que se fodesse.

"Tem muita gente na casa hoje, vai ser um grande show" cantarolou ela. A vagaba pegou o laço que iria usar e que iria cair quando o Peter Pan, eu, fizesse Wendy e seus irmãos voarem pelo palco e depois ir para a terra do nunca. Desejei que o cabo de aço estourasse e que a puta caísse em cima do próprio pescoço, morrendo asfixiada com o sangue venenoso.

Contudo um dos meus amigos, Pedro, iria ser o irmão da Wendy, isso me fez esquecer o pensamento homicida. Por enquanto.

"Não aguento mais para esperar o espetáculo começar" Tudo. Bem. A. Cachorra. Estava. Me irritando. Pra. Cacete.

Não respondi nada, apenas olhei para o espelho, fingindo que aquela ameba não estava infectando o meu ar privado.

Kamylla retirou-se do camarim praticamente saltitando de alegria. Conseguia sentir o sorriso incansável em seu rosto. Depois que a cobra se esquivou pela porta, ouvi uma gargalhada muito cheia de graça. Ela estava rindo como uma doente mental, não iria estranhar se estivesse no chão rolando. Sua risada me afeitou, deixando o humor muito mais do que ruim.

Que diabos estava acontecendo com ela?

 

 

Tentando não estragar tudo, fui até onde a fantasia estava. Já havia assistido mil filmes iguais a Meninas Malvadas, e sabia que o primeiro motivo para a vadia estar feliz daquele jeito era por estar planejando algo, olhei com atenção a fantasia. Parecia estar normal. Pegay nela com cuidado e cheirei, não cheirava a pó-de-mico ou algo do gênero, para me impedir de subir no palco.

Dei de ombros, estava quase na hora. Tinha que ir para o palco logo. Primeiro pegay a calça verde, com uma tonalidade mais marrom, contudo não deixava de ser um verde intenso. Depois vesti o colete, de um verde mais claro, com as mangas até os bíceps, na cintura e nas mangas o colete era formado por triângulos de cabeça para baixo. Com o colete posto, foi a vez de colocar o cinto, com coldre para a faca de mentira. As botas eram a parte mais bonita do figurino, terminavam depois do calcanhar e eram feitas de couro sintético. Vesti o chapéu com uma pena do lado esquerdo.

Era isso, eu estava pronto. Procurei a diretora nos bastidores do teatro. Ela me analisou por alguns segundos, depois arrumou a pena do chapéu e passou a mão no colete, tirando possíveis amassados.

"Nossa estrela vai brilhar" disse ela alegremente, batendo palmas felizes. Os outros atores ao meu lado ficaram olhando minha fantasia, eu olhei as deles também. Os piratas estavam genuínos. Os irmãos da Wendy, dois rapazes com a barba feita, ficaram muito fofos com suas camisolas. Teylon conseguiu pôr o gancho perfeitamente na sua mão esquerda, a fantasia ficou muito bem nele.

Olhei para o chapéu volumoso que ele usava e percebi que a pena do meu chapéu foi tirada da dele.

"Estou muito nervoso" confessei para ele, quando estávamos chegando no palco, conseguia ouvir a voz das pessoas se aglomerando na plateia. Como Kamylla havia dito: a casa estava cheia. "Acho que vou vomitar" acrescentei.

"Se estregar essa roupa, vamos te matar. Você consegue passar por isso" incentivou Teylon. Para ele era fácil falar, estava com uma maquiagem que o deixava muito mais velho do que realmente era e tinha um gancho na mão, quem iria rir dele?

"Viu Marcus por ai?" indaguei, como quem não quer nada.

"Ele estava atrás de você. Não chegou no camarim?" ele olhou confuso, como se minha pergunta fosse desnecessária.

"Não". Marcus estava me procurando? Lembrei-me da vez que a diretora o havia expulsado dos bastidores, talvez os seguranças e a produção tivesse recebido ordem para não deixar ele circulando ali, então alguém o viu e o arrastou para a plateia.

"Tenho certeza que seu amado vai estar na plateia" comentou Teylon sorrindo para mim. Teylon não era gay, mas falou o comentário como se fosse um. Ele não se importava com o fato de eu gostar de garotos. Nossa amizade era baseada em confiança, o resto não importava muito.

"Marcus não é meu amado" retruquei, tentando disfarçar o tom apaixonado em minha voz.

"Deveria ter dito isso para as rosas que ele comprou!".

"Rosas? Como assim?!" agora não estava entendendo muito bem tudo aquilo.

"Ele estava com duas rosas, disse que iria te entregar. Um presente. Não sei não. Marcus vive cantando de galo, e você mesmo repete incansavelmente que ele não é gay, mesmo assim ele gosta de você".

"Não entendi".

"Marcus pode não ser gay, mas isso não impede que ele goste de você".

Fiquei olhando para Teylon. Disse para ele que no fundo gostaria que fosse verdade, que Marcus se apaixonasse por mim como eu me apaixonei por ele, mas sempre que ficávamos sozinhos, Marcus não falava nada íntimo, nem me tocava.

 

 

"Cinco minutos, senhoras e senhores" gritou a voz da diretora. Com o seu chamado todos correram nos eu lugar.

O palco estava perfeito, com o cenário do quarto dos Darling. Três camas e uma casinha de cachorro, no centro havia uma cabana feita de lençóis.

Eu, apenas eu, me posicionei na frente do palco, o roteiro dizia que a peça iria começar com Peter Pan, lendo as últimas linhas do livro original. Ao lado do palco estavam todos os outros personagens esperando sua vez e alguns para me ver. Minhas mãos além de suar estavam tremendo. Não limpei o suor na roupa, ou iria manchar.

Suspirei fundo. As luzes começaram a diminuir e o som ambiente que estava tocando em todo o auditório foi sumindo aos poucos. De repente todos ficaram em silêncio. Olhei para os lados, meus pés começaram a coçar e a barriga ficou gelada de repente. Algo não estava certo.

Kamylla estava em um canto, me olhando igual uma psicopata. Sério, algo não está certo, disse para mim mesmo.

Com medo de um balde de sangue cair na minha cabeça, comecei a sair do palco, não iria ficar ali. Iria contar tudo a diretora, ela iria dar um jeito em Kamylla, eu era a estrela, não iriam conseguir a peça sem mim. Mas.... Bem que.... Havia outro garoto com a vestimenta do Pan, pronto para me substituir.

No meu segundo passo, fugindo do palco, uma luz fraca foi lançada nas cortinas. Antes que elas se levantassem para o primeiro ato. Olhei para a luz, cego. Dei um suspiro, e percebi que o coração estava preso na garganta.

A luz foi se transformando em um filme, aos poucos uma cabeça tomou forma no centro do vídeo. Olhei várias vezes, piscando rapidamente para entender tudo o que estava acontecendo. Todos as pessoas atrás das cortinas invadiram o palco aos poucos. Observei Kamylla rir histérica do outro lado, Teylon se aproximou de mim.

Por fim, distingui que a cabeça no vídeo era minha. Estava agachado na frente de uma câmera. Duas coisas me ocorreram no mesmo segundo. Dei um passo à frente, sentindo o NÃO se formando no fundo da garganta. Contudo sabia que não poderia fazer nada.

Vamos logo, não quero ficar aqui, essa era minha voz, soando metálica e distante no sistema de som. Lágrimas se formaram no meu rosto, eram de raiva, desprezo e um medo negro, destruidor.

Calma, meu bebê guloso, outra voz me acompanhou. Tinha certeza que a voz no vídeo deveria ser a voz de Thales, pois sabia que era ele quem manipulava a câmera, contudo a voz saiu mais áspera, não tão grossa como a de Thales, era a voz de Marcus. De alguma maneira colocaram a voz de Marcus em um vídeo meu e do Thales.

A partir daí o vídeo ficou pior... mais quente. A câmera focalizou minha posição submissa e mostrou a cueca branca de Thales/Marcus. Depois de exibir um pau enorme na cueca, minha mão começava a alisar o dote. Fui descendo a mão, fazendo carinho. Sabia que o vídeo tinha mais de 5 minutos, mas fiquei tão destruído que absorvi apenas flashes, enquanto meu sistema neurológico entrava em colapso.

Observei a cueca de Thales/Marcus descer e o pau dele aparecer. Imponente. Majestoso. Logo depois eu o masturbei por mais alguns segundos.

De repente a câmera mudou de posição, ficando ao lado do corpo de Thales/Marcus, minha boca engoliu o pau, com ansiedade. Fui mamando ele com gosto.

Do outro lado das cortinas, a plateia começou a gritar, uns enfurecidos, outros envergonhados e alguns, muito poucos, gritando excitados com o espataculo free porn. Conseguia até ver as pessoas com seus filhos totalmente indignadas. Perplexas, como eu estava.

Meu Buda, o que estava me acontecendo?

Cambaleie para trás, desmaiando ali mesmo. Teylon me segurou. Os risos de Kamylla eram agora gritos enlouquecidos. Aquela vagabundapiranhafilhadaputadesgraçada. Eu quis matar ela! Acabar com a raça daquela prostituta. Contudo sabia que meus pais estavam vendo vídeo, precisa saber se eles estavam vendo ou haviam saído como 90% da plateia.

Segurei em Teylon e fiz ele ir comigo até as cortinas. Dali eu conseguia ouvir meus gemidos e ou gemidos de Marcus saindo pelo sistema de som. Que porra do caralho. Puxei a cortina. Sim, meus pais estavam ali, primeira fileira, eles olhavam com espanto e nojo para o filme. Meu pai parecia querer vomitar, e minha mãe chorava, coitada. Eu estava chorando.

Sabia que o filme não havia terminado, contudo não me importava. A merda já estava feita. Fui para o meu camarim. Sentindo todos me olhando e imaginando eu chupando o pau de Thales.

Alguém, por favor, me mate!

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ATENÇÃO: O vídeo do "Rafachupando o Thales".

 

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