NÃO SOU GAY - CAP. 13
Quando o resultado da peça finalmente foi anunciado foi o dia mais feliz de toda a minha existência. Eu estava radiante, acordei cedo, tomei café e banho, pus o uniforme horrível com bom humor e fui para a escola. O resultado para qualquer coisa sempre ficava em quadros de avisos. Tinha um deles logo na entrada do colégio. Corri para lá. Teylon, meu amigo ruivo, estava lendo o papel amarelo.
“Parece que não sou o único com ansiedade” disse sorrindo
para ele. Trocamos um aberto de mão e olhei a folha. Comecei a ler desde o
começo. Estava explicando que aquele era o resultado dos testes para a peça
Peter Pan. Dizia também que os escolhidos deveriam comparecer ao teatro
municipal as oito horas da terça-feira, levando a carteira de estudante ou
qualquer outro documento. Eu sabia que eles queriam essa documentação para
fazer um passe ao teatro, para os escolhidos.
Enfim comecei a ler os nomes dos alunos e na frente o
personagem. Logo no topo estava Teylon Braga – Gancho. Olhei para meu amigo
sorrindo.
“Eu pensei que não iria conseguir”, admitiu ele, com um
sorriso amarelo.
Continuei a ler: Camylla Alves – Wendy. Essa me fez ficar
com o estômago embrulhado. A namorada de Marcus, a pessoa que não ia com a
minha cara, seria a minha parceira, caso eu tivesse conseguido o papel. Fui
lendo para saber logo. Meu nome estava entre os últimos, ao lado dos Garotos
Perdidos. Lá estava: Rafael Santos – Peter Pan.
“Eu consegui” gritei com felicidade. Me afastei do quadro de
avisos e abracei Teylon com força, quase o tirando do chão.
“Nós conseguimos” disse ele, sorrindo para mim. Senti
vontade de dar um beijo nele, mas logo lembrei que ele não era meu namorado.
“Preciso contar a novidade para alguém” disse o soltando e
correndo em direção a salas de música.
***
7:30 horas da noite, teatro municipal...
Cheguei no teatro as sete e meia, pois não aguentava mais a
ansiedade. Desde a última peça que participei, como protagonista, eu não havia
atuado novamente e isso, mesmo com apenas poucos meses, estava me deixando louco.
Eu sempre senti uma vontade descontrolada de estar lá em cima, fazendo algum
personagem. Atuar era minha maior paixão. Então eu precisava chegar cedo.
Abri uma grande porta de madeira, um pouco velha e me
deparei com diversas fileiras de acentos. Capacidade para mil pessoas, dizia
uma plaquinha orgulhosamente na parede. Eu me senti nervoso e orgulho ao saber
que queria a chance de me apresentar para mil pessoas. Não era dez, eram mil,
isso era fantástico. Fui andando pelas fileiras até chegar no placo, dei a
volta e entrei nos bastidores.
Todos tínhamos o lugar para vestir nossos figurinos, nos
maquiar e o que mais fosse necessário. Eram divididos na seguinte forma: duas
pessoas por sala, com banheiro espelho e muitas luzes, ou camarim, como
chamavam. Infelizmente fiquei sabendo que iria ficar no mesmo camarim de
Camylla. No e-mail enviado pela diretora ela disse: “eu os coloquei junto
porque é fundamental que o Peter e a Wendy tenham uma conexão”. Eu pensei em
responder que a única conexão que eu teria com a Camylla seria com o Wi-fi do
teatro, mas resolvi deixar isso quieto, poderia perder o meu papel.
O local estava silencioso, com apenas um ou dois membros da
produção andando pelo local, um segurança, falando com seu rádio. Tudo normal
para uma noite de ensaios. Então decidi ir para o camarim me preparar para as
desejadas oito horas.
Empurrei a porta de madeira antiga sem bater. Não sabia se
havia alguém ali e em todo caso era o meu
camarim. Como me passou a diretora pelo e-mail.
Adentrando desse jeito, sem avisos, surpreendi Camylla e o
próprio Marcus. Ambos estavam sem suas roupas, apenas peças intimas estavam
penduradas em seus corpos magros. Marcus, usando uma cueca pequena a apertando
sua bunda, estava agachado de frente para a outra, ele segurava os peitos dela
e chupava. Camylla estava segurando os cabelos negros do outro, gemendo.
Demorou alguns segundos para se darem conta que eu entre no camarim.
Camylla foi a primeira a me ver. Ela deu um gritinho fino e
puxou a veste sobre o seu corpo, depois retirou-se correndo da sala, deixando o
celular e outras coisas para trás. Corri para o lado, não querendo bater em
nenhum mamilo chupado.
Depois que ela foi embora, me dei conta que estava sozinho
com Marcus. Ele estava usando apenas aquela cueca muito apertada no seu corpo.
Seu peito tinha pequenos músculos, bem rígidos, eu conseguia comtemplar todos.
O cabelo preto caiu sobre seu olho verde, ele não o afastou. As sobrancelhas
longas se arquearam ao me ver parado diante dele, o rosto exalando a arrogância
de sempre. Tive vontade de chupar o seu corpo magro para fora do meu camarim.
O que mais me deixou desconcentrado com toda a situação foi
o pau de Marcus, que ficou pressionado na sua cueca, perigosamente pequena. O
negócio poderia sair a qualquer momento. Eu não estava sentindo tesão por ele,
amava Thales, mas não poderia virar o meu rosto e fingir que aquele troço duro
não estava ali, diante dos meus olhos.
“Vai se ferrar cara” disse Marcus, com a expressão arrogante
e severa. Ele não colocou a veste, só ficou me olhando feio. “Por que não
procura outro canto para pintar sua cara? Tinha que aparecer e atrapalhar a
gente?”
Eu estava atrapalhando-o? Era que ele estava no meu lugar. E
ele nem era ator, era a porra de um nadador que se achava o rei do mundo. Mordi
o lábio e pensei em gritar isso para ele, e pedir para ele ir embora do meu lugar. Contudo antes de gritar
reparei que do meu lado havia uma dezena de mascaras penduradas na parede, de
diversas cores: uma vermelha, com a expressão de raiva; amarela: com expressão
de medo; uma rosa, que tinha um enorme sorriso; uma cinza, com uma lágrima
pintada ao lado do rosto. Peguei a verdade, com expressão de enjoou, pois era
exatamente o que estava sentindo.
Antes de gritar peguei a máscara verde e joguei com toda a
minha força em direção a Marcus.
O objeto atingiu o pênis do outro em cheio. Houve um barulho
surreal, depois disso Marcus caiu de joelhos no chão. Fiquei olhando para ele e
vi lágrimas verdadeiras saindo de seus olhos. Ele colocou a mão no pênis machucado
e ficou chorando. O cara ficou no chão por mais de um minuto, chorando
baixinho, ele se levantou de súbito. Agora seu rosto parecia a máscara
vermelha, puro ódio.
“Eu vou acabar com você” ameaça ele. Marcus começa a correr
em minha direção. Para minha sorte a porta está bem do meu lado, abro-a e pulo
no corredor. Dois segundos depois Marcus está abrindo a porta e gritando que
vai me matar.
Naquela ocasião eu senti muito medo dele, realmente medo. Eu
sabia que havia machucado o pau do cara e sabia que ele iria me bater de
verdade. Sem contar da última vez que nos encontramos: ele disse que iria me
dar uma lição.
Eu corri loucamente pelo teatro, para não levar essa lição.
Olho para trás e, para meu espanto, Marcus está com a mão
estendida, quase pegando meu pescoço. Ele vai me derrubar! Viro o pescoço para
a frente de novo, vejo um vulto diante dos meus olhos e não consigo parar de
correr. Trombo na diretora, que estava caminhando tranquilamente pelos
bastidores.
Ela se segura na parede para não cair. Marcus aproveita a
situação e pega meu braço, para que eu não corra dele, novamente.
“O que está acontecendo aqui?” indaga a diretora, olhando
para meu rosto. O dela está vermelho e ligeiramente desconcertado.
“Só estávamos brincando de pega” explica Marcus, sem soltar
o meu braço. Sinto ele apertando com mais força.
“Agora não é hora de brincar... e cadê as suas roupas
garoto?” ela finalmente percebe que Marcus está usando apenas uma cueca, muito
pequena e apertada. Olho para ele, o tecido caiu com a correia e consigo ver
boa bater da sua bunda.
“Eu... eu.... Eu estava me trocando para o teste” improvisa
Marcus. “Quando o Rafinha chegou e começamos a brincar”
Rafinha?
“Os testes foram semana passada. Você — ela aponta para mim
— vai se trocar agora. E você — ela coloca o dedo no peito nu de Marcus — venha
comigo”.
A diretora pega na orelha de Marcus e o arrasta para a
frente do palco, onde ficam as fileiras. Ele solta o meu braço e a acompanha,
gritando de dor e pedindo para ela parar com aquilo.
Finalmente consigo voltar para o camarim e colocar o
figurino de Peter. Os ensaios para a peça começam.
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