NÃO SOU GAY - CAP. 3
As primeiras aulas começam e acabaram. Eu fiquei concentrado
em todas e não tive tempo de pensar em Thales, ou no infeliz do Marcus, que me
atormentou durante a primeira aula. Sim, infelizmente estudávamos juntos. A
estrela e eu.
Quase na hora do intervalo comecei a pensar em Thales. Eu não
havia ligado para ele desde que fugi de sua casa e ele não me ligou, por um bom
motivo. Eu não lhe dera o meu número e não o deixava ir na minha casa. Meus
pais achavam que eu tinha uma namorada ou que eu iria fazer um trabalho na casa
de um amigo, todas as vezes que ia até sua casa para namorarmos, e assim
preferia que ficasse.
Por não ter meu número ele não poderia ligar, mas será que
não poderia ter me procurado quando chegou no colégio? Afinal, ele quem foi
grosso comigo e me devia desculpas. Logo guardei essa discussão interna e
esperei uma boa hora para ir procurá-lo.
Essa hora foi no momento do intervalo.
Teylon se aproximou de mim, sorrindo um pouco. Olhei em
volta, não havia mais ninguém ali. Ele realmente estava querendo falar comigo e
isso era uma merda. Eu gostava dele, mas justo agora que iria atrás de Thales?
— Vai na cantina comer alguma coisa? — quis saber ele,
arrumando seu cabelo ruivo.
— Não, estou fazendo regime — era obvio que eu não
precisava. Mas ele pareceu engolir essa e balançando a cabeça, retirou-se pela
porta.
Dois gêmeos passaram ao meu lado, no momento em que sai no
corredor. Eles eram totalmente idênticos e aquilo me instigava medo. Como duas
pessoas podem ser tão idênticas.... Duas pessoas ocupando o mesmo espaço,
vivendo ao mesmo tempo... isso era muito estranho.
Virei a esquerda no corredor e os irmãos continuaram a ir no
mesmo caminho que o meu. Percebi que conversavam, mas não conseguia ouvir, por
mais que chegasse perto e aguçasse meu ouvido. Desisti e caminhei por mais
alguns metros. Por fim os gêmeos abriram a porta da sala de música e entraram.
Segui-os e entrei, na verdade coloquei apenas minha cabeça.
Lá estava Thales, dando seu show no microfone. Ao redor da
banda havia uma pequena plateia. Recheada com meninos e meninas, se eu
estivesse em um dia comum, em uma situação comum, entraria, simplesmente, e
curtiria a batida do rock como os gêmeos e os demais. Contudo eu estava intensamente
aflito para conversar com Thales para sentar e relaxar.
A música parecia estar chegando no final, Thales afinou a
voz e prolongou a última palavra por um bom tempo, sem gritar ou desafinar, ele
parecia melhor mesmo. Tinha que admitir.
— Parabéns, a todos — elogiou o professor de música. Um
homem jovem e bonito demais para dar aula. Ele trabalhava como modelo, nas
aulas vagas, cantava em uma banda amadora e dava aula, apenas por prazer. Se eu
estivesse no lugar dele, ficaria como modelo. — Bruno, precisa praticar mais,
em alguns momentos se perdeu na letra da música — Jorge, o professor, apontou
para o guitarrista. A música estava tão boa que não percebi qualquer defeito,
mas o professor sim. Ele até colocou defeito no final da música, na voz de Thales.
— Fora esses pequenos detalhes, estão melhorando rapazes.
A sala irrompeu em aplausos. Juntei-me a eles, por educação.
Logo depois o professor Jorge deixou a sala, e por incrível que pareça todos
saíram! Era minha chance perfeita.
Na sala ficaram apenas os integrantes da banda: Thales, o
vocalista, Bruno, o guitarrista, Kaique, o baterista e César, o cara do baixo.
Todos estavam polindo os instrumentos antes de guardá-los.
— Oi, Rafa — disse César ao me ver entrar, ele morava na rua
da minha casa desde sempre. Então nos conhecíamos desde a época do cueiro, e
desde aqueles tempos ele melhorou muito. O rosto ficou coberto de espinhas por
um tempo, mas todas foram embora com o tratamento e ele ficou com o melhor
rosto que eu conhecia pessoalmente. Era um cara legal, eu sempre poderia contar
com ele. O uniforme de César estava colado no peito malhado, a calça era
apertada, revelando pernas tonificadas e a bunda dura com os exercícios e a
bicicleta. Os olhos castanho-claro dele sorriam para mim e eu retribui o
sorriso. Tinha o cabelo caramelado, quase dourado e era cacheado, bem volumoso.
César era lindo, mas eu tinha olhos apenas para uma pessoa.
— Oi, César. Sua mãe disse que o gatinho de vocês tinha
sumido. Ele voltou?
— Voltou sim. Ele sempre volta — César abriu ainda mais seu
sorriso para mim, um sorriso cumplice, pois ele e eu já havíamos feito tantas
experiências com o gato que ele raramente ficava em casa. Mas como ele mesmo
disse, o gato sempre voltava.
Enquanto estava conversando com César, percebi que Thales
nos encarava sério, quase sério demais. Foi então que percebi que estava
cometendo um erro: Thales estava achando que eu o estava ignorando e que fui
ali apenas para ficar sorrindo para meu amigo, o qual ele sempre me segredava
ter ciúmes.
Pus a mão na boa e contrai o rosto, como quem leva um tapa
ou quem entende que fez algo muito errado.
— Oi — disse a Thales, rezando para não ser tarde demais.
— E ai, cara — bom, ele me chamou de cara, então ele
realmente estava pensando que eu fui ali apenas para fazer ciúmes. Enquanto
tudo o que eu queria era beijá-lo!
— Posso conversar com você? — meio que ignorei César, ele me
olhou duas vezes, enquanto mexia em suas coisas, acho que percebeu o que estava
acontecendo e fechou o sorriso. A banda toda percebeu o que estava acontecendo.
O clima ficou tão chato que por um segundo pensei em sair correndo dali.
— Claro, mas não quero atrapalhar — com um olhar, Thales
apontou para César.
— Thales — disse baixinho, o mais baixo possível. Não
precisava gritar para demonstrar que estava ficando irritado e ele conhecia
essa minha característica. Então fechou o estojo com o microfone e deslizou
para o fundo da sala.
Não era a cena mais romântica do mundo, não havia um grupo
inteirando cantando que o amor era lindo, ou flores e doces, como eu sempre
quis. Mas Thales estava ali, comigo, e isso era perfeitamente perfeito.
No momento em que ele chegou no fundo da sala e ficou
sentado em um banco, eu não abri minha boca e não deixei ele abrir a dele, para
brigarmos ainda mais. Estava ali em missão de paz. Thales se sentou e eu me
joguei em seus braços, fechando as mãos em suas costas e lhe dando o beijo mais
demorado que eu conseguia.
Esperei ele me empurrar e dizer para eu voltar para César ou
qualquer pessoa. Contudo ele apenas me abraçou e acomodou-me com carinho em seu
abraço. Fechei os braços em volta do corpo de Thales. Ele era muito cheiroso,
sua roupa tinha um perfume forte, intenso e reconhecível de longe. Seus lábios
morenos tinham um gosto salgado de suar cantando, mas logo isso passou e ficou
apenas um gosto de halls sabor menta entre nossos lábios.
E esse era eu: um menino de 17 anos que amava esse outro
menino e não gostava de brigar, queria apenas ficar com seu namorado lindo.
Thales sempre foi safado e logo estava com sua mão na minha
bunda, apertando-a, ali mesmo, na frente dos outros integrantes da banda. Tive
quase certeza que ele fez aquilo apenas para mostrar para César, e todos os
outros, que eu era dele. Pensei em me afastar e não deixá-lo me exibir como
prêmio, mas o ciúme de Thales de certa forma era uma forma de demonstrar que me
amava e era fofo.
— Isso foi bom — disse ele, com o sorriso sacana no rosto.
Estava sem ar, respirando ofegante. — Me desculpe pelo outro dia — finalmente!
— Tudo bem, amor — disse distraído. Não queria admitir que
passei a noite em claro pensando nesse momento, duvidando se ele realmente iria
se desculpar.
— Thales, seu merda, levanta essa bunda daí, ou vamos te
deixar para trás — gritou Kaique, jogando sua franja preta-vermelha de roqueiro
para o lado.
— É. Estamos com fome, seu puto — César disse alto, de onde
estava.
Bruno já havia saído da sala. E não estávamos em um livro ou
um filme, era a vida real e na vida real tínhamos apenas 20 minutos de
intervalo, então precisávamos correr ou iriamos ficar com fome.
— Eu preciso mesmo resolver um assunto com o meu professor —
disse dando de ombros e me afastando dos braços longos e musculosos de Thales.
— Passa na minha casa, depois da aula — convidou-me Thales,
ele disse a frase no meu ouvido, seu hálito quente me fez arrepiar. Depois
beijou minha bochecha e retirou-se com os amigos.
Eu estava realmente apaixonado por ele....
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