NÃO SOU GAY - CAP. 30
Dorota me levou para sua casa, como disse que iria fazer ao me ver parado na calçada. Eu fiquei realmente surpreso, e olhei para ela, sem deixar de questionar o porquê dela me receber em sua casa. Eu estava sozinho, perto dos meus dezoito anos, mas não são todas as pessoas que acolhem estranhos em suas casas.
Ela quebrou minhas expectativas,
esperava que ela tivesse alguma relação emocional com o abandono ou com alguma
pessoa homossexual. Um primo, por exemplo, contudo ela só disse "estar
fazendo o certo". Eu a abracei por isso e chorei em seu colo. Minha nova
mãe, comecei a chamar a Prof.ª mentalmente assim, mesmo que nunca tenha dito
nada sobre isso a ela.
Fiquei três meses afastado do colégio
e quando voltei era férias de junho, para minha sorte. Eu não teria que encarar
ninguém depois da humilhação do teatro e da minha pequena estadia na cadeia.
Tudo isso já estava para trás, pelo menos gostaria de acreditar que sim.
Não tinha aula, isso era bom por um
lado, mas por outro, não tinha como falar com Marcus. Eu estava maluco de
saudade dele. Maluco mesmo. Não pensava em chegar nele correndo e gritar
"seu pai procura gays no meio da noite, aquele pervertido", por dois
simples motivos i) eu nunca iria falar da minha vida de garoto de programa para
Marcus ou qualquer pessoa e ii) minha vida se transformou em um verdadeiro
inferno quando fui jogado para fora do armário.
Jamais, nunca, nem em sonho eu teria
coragem de fazer o mesmo com alguém. O simples fato de destruir a família de
Marcus iria contra tudo o que eu acreditava. Tínhamos a promessa de nunca
esconder nada um do outro, mas existem coisas maiores do que eu, maiores do que
ele ou de quaisquer pessoas. E essas "coisas" estão fora do meu
alcance.
Queria ver Marcus para simplesmente
lhe abraçar e pedir perdão por fugir dele.
Mas agora estou eu aqui, sem saber
onde ele mora, sem ter qualquer contato com ele: e-mail, Facebook, WhatsApp.
"Já pensou em procurar ele no
Face? Talvez ele criou um novo perfil, ou sei lá" sugeriu Teylon do outro
lado do telefone. Depois do episódio da cadeia, que eu não sabia seu número,
pedi para a Prof.ª consegui-lo, desde então tenho seu número memorizado. Ligava
para Teylon sempre que tinha permissão, o único amigo da minha velha vida.
"Já procurei e devo ter olhado
todos os Marcus da cidade. Ou ele desativou ou foi bloqueado. O fato é que ele
não se importou em criar outro perfil" disse ao meu amigo, suspirando
magoado.
"Se quiser, posso ir na escola,
e perguntar onde ele mora" Teylon sugeriu de novo, dessa vez com mais
confiança na voz.
"Pode ser" suspirei triste.
"Rafa, eu sei o quanto você
gosta daquele garoto. Thales também deve saber disso, por isso ele levou a
vingança acima dos limites. E eu sempre achei que o Marcus estava afim de você.
Ai, de repente, você sumiu da face da Terra. Isso deve ter sido um choque para
ele".
Respirei profundamente. Lembrando-me
do dia em que o pai de Marcus me chamou de coisa. Se eu tivesse tomado uma
iniciativa, discutido com o velho, Marcus teria tomado a briga e iria enfrentar
o pai. Isso só iria resultar em mais drama e desgraça. Eu precisava, pelo menos
por um tempo, dar o tempo que os pais de Marcus precisavam para se entender com
o filho.
Disse isso para Teylon, e
acrescentei, com a voz de choro: "eu me sacrifiquei porque o amava. Se ele
sentisse o mesmo por mim, ou se importa-se comigo, teria procurado a Dorota.
Ela não me disse nada sobre ele, desde que chegay".
"Ele te procurou"
revelou-me Teylon, com a voz baixa. Como se ninguém soubesse do que estava me
contando, e queria que continuasse assim. "Eu até o ajudei um pouco. Mas
logo percebemos que tinha ido de verdade e só voltaria quando quisesse, isso se
voltasse".
Fiquei em silêncio. Saber que Marcus
tinha me procurado não fazia o fato de estar sem ele mais confortável.
Teylon desligou minutos depois,
quando me despedi.
Dorota chegou em sua casa depois das
três horas da tarde. Eu estava na cozinha, picando uma cebola em pequenos
pedaços. Lagrimas ardentes escorriam pelo meu rosto.
"Tenho uma ótima novidade,
Rafael" cantarolou a professora, seu sorriso se iluminava como o sol em
seu rosto. Os olhos brilhavam de felicidade.
"Meu irmão ganhou um pacote de
férias. E, a melhor parte, ele nos convidou! Vamos passar duas semanas inteiras
a beira mar!".
Eu dei um sorriso educado, duro e sem
convicção.
Ela parou na minha frente, e me
estudou por um tempo, depois disse, com tom preocupado.
"Você não está feliz, o que lhe
aflige?".
"Não é nada professora, é apenas
o efeito da cebola" disse disfarçando a voz e passando as costas da mão no
olho esquerdo, enxugando duas lágrimas.
"Rafael" ela disse meu nome
com autoridade, era claro que sabia que eu estava mentido, e isso não a
agradava muito.
"Eu gostaria muito de ir com a
senhora e o seu irmão, ele salvou a minha vida, só que" funguei para
controlar o choro provocado pela cebola, em parte "agora que voltei a
minha vida antiga, eu quero muito ver uma pessoa"
"Pessoa ou Marcus?" O seu
olhar preocupado deu lugar a um olhar compreensivo e amigável.
"Marcus" admiti.
"Se esse for o empecilho que o
impede de ir conosco, convide Marcus para participar. Eu acho que podemos
levá-lo sem privar muita coisa da viagem. Tenho um dinheiro sobrando, em todo
caso".
"Oh, professora" sorri sem
alegria. "Eu nem sei onde ele mora, e não tenho contato com ele".
"Eu sei. E é melhor você não o
convidar, deixe que eu resolvo esse estorvo com os pais dele. Se eles sonharem
que você vai estar na viagem, eles nunca iriam deixar. Não é mesmo?".
Concordei com a cabeça.
"Bom, as passagens aéreas são
para daqui três dias. Vou imediatamente ir falar com os pais dele, ou não
teremos tempo de organizar tudo".
"Professora, a senhora não
precisa fazer isso por mim, já estou atrapalhando demais" disse abandonado
a cebola, já retalhada como queria.
"Não diga bobagens" Dorota
se aproximou de mim e beijou minha testa. Logo depois pegou sua bolsa e saiu.
Algumas horas depois a Prof.ª Dorota
retornou para casa com uma mala de viagem para mim e com a notícia de que os
pais de Marcus deixaram ele ir viagem com a professora. Fiquei perplexo, não
esperava que eles deixassem assim, de tão bom grado. Logo Dorota me explicou
que Marcus estava planejando viajar, em todo caso, e que os pais ficaram feliz
por ela ter aparecido no momento exato. Assim saberiam que o filho não estava
com qualquer pessoa por aí.
Os dias que antecederam a viagem
foram os melhores desde a minha volta para minha antiga vida. Meu coração
acelerava cada vez que eu percebia que em pouco tempo estaria com Marcus
novamente. Com as malas prontas, fomos para o aeroporto.
Marcus, infelizmente, teria que ir em
um voo diferente. As passagens do voo o qual o irmão de Dorota havia ganhado já
estava cheio. Eu só o encontrei no nosso destino.
Estava debruçado sobre a minha tenda,
o irmão da professora planejou uma viagem diferente, nós iriamos passar os dois
primeiros dias acampando. Eu estava tentando montar a tenda que iria ficar,
quando senti uma mão batendo nas minhas costas.
Virei-me para o estranho rapidamente,
senti meu rosto queimar e os olhos se arregalarem. Era Marcus quem me cutucava,
ele estava com a mala pendurada no ombro, o rosto coberto por uma pequena barba
rala e sorria para mim. Meu nadador jogou sua mala no chão e me pegou em seus
braços quando me jogay sobre meu corpo.
Senti nossos corpos colados, desde a
coxa até o peito, eu rocei meu corpo no dele. Sorrindo até os lábios doerem.
Finalmente eu estava com quem me fazia falta. Os braços de Marcus pareciam
querer esmagar as minhas costas. Já estava ficando sem ar quando ele me soltou.
"Eu estava com saudades"
ele disse apressado, antes de avançar em minha direção e colar nossos corpos
novamente.
"Não sabe o quanto quis te
ver" disse rindo, embora lágrimas formassem-se nos meus olhos.
"Eu posso imaginar" a mão
de Marcus veio até meu rosto e fez uma pequena caricia. Sorri para ele.
"Me ajuda a montar esse troço?
Não estou conseguindo" disse apontando para o monte de ferro e plástico
que, tecnicamente, era minha tenda.
"Vamos ficar na mesma tenda, então
é melhor eu te ajudar, não é?" Marcus se aproximou dos ferros e começou a
organizá-los.
"Espera um pouco, vamos ficar
juntos?" Indaguei incrédulo.
"A professora disse que
sim" ele parou o que estava fazendo e se virou para mim. "Algum
problema?".
Eu sorri e neguei com a cabeça. A
professora deve ter colocado ele comigo para economizar.
"Foi o que pensei" disse o
nadador, continuando o seu trabalho.
Dez minutos depois estava me sentindo
um ser muito ignorante, por não ter conseguido montar a barraca. Nas mãos
profissionais de Marcus pareceu tão fácil que mal precisou de minha ajuda,
fiquei olhando e admirando seu trabalho.
Com tudo pronto, Marcus entrou e
colocou sua mala no meio da tenda, eu a empurrei para o lado e coloquei a minha
sobre o mesmo lugar.
"O que está fazendo? "
questionou ele, jogando a minha e colocando a dele no centro.
"Estou dividindo a tenda no
meio" coloquei a minha mala no lugar dela.
Marcus a jogou para mais longe quando
pôs a dele.
"Que porra, deixa a minha
mala" disse empurrando o ombro dele, mesmo em um local apertado, conseguia
o empurrar com força.
Marcus passo a mão em volta da alça
da sua mala e a girou no ar, dando com o objeto no meu ombro. Mordi o lábio com
dor. Ele estava rindo da minha cara. Pegay minha mala e joguei na cara dele.
Desviando, ele veio até mim e me deu um soco no ombro.
"Para com isso, chato".
"Para você, essa criancice sua
mão tem graça".
"Vai se foder" retruquei.
"Vai se foder você" ele
cuspiu, e se jogando em cima do meu corpo, tentando me dar um soco. Eu lutava
com seus braços.
A brincadeira ficou séria quando
cravei os dentes no ombro de Marcus, ele me xingou e bateu de verdade na minha
cabeça. Comecei a chutar o seu saco, mas ele se defendia com maestria...
Mds, cão e gato esses dois kkkkkk
ResponderExcluirAguardando ansiosamente o próximo capítulo