NÃO SOU GAY - CAP. 12
Os últimos raios de sol brilharam por alguns instantes, depois a noite começou a cair. Eu estava dentro do carro de meu pai, consegui fazer ele me emprestá-lo para ir até a casa de uma amiga minha: na verdade pegay o carro para ir até a casa de Thales. Ver como meu nego estava.
O brilho no para-brisa diminuía gradativamente ao pôr do
sol. Parei em um sinal e olhei para o relógio no meu pulso, a àquela hora os
pais de Thales já deveriam estar em casa e se esse fosse o caso eu teria algum
problema para conversar com ele e pedir desculpas. O sinal ficou verde e pisei
fundo no acelerador.
A casa de Thales ficava um pouco afastada da minha. Não
daria para ir de bicicleta e como estava anoitecendo não pensei duas vezes na
suposição da bike. O carro do meu pai era um popular, com ar condicionado,
cheiro de lavagem a seco e cigarros da mamãe. Do lado esquerdo, no para-choque,
tinha a minha grande marca de barbeiragem quando estava aprendendo a dirigir.
Meu pai, quando se trata de ensinar outra pessoa, não tem paciência. Não do
tipo que sai gritando e chamando as pessoas de retardadas, ele não tem paciente
para ficar dizendo tudo passo-a-passo então me deixou por conta própria no
carro. Quase o capotei, virando uma esquina, o fato de apenas o para-choque
estar amassado é quase um milagre.
Na noite em que estava indo para a casa do meu namorado, eu
já aprendera muita coisa e parei de tentar virar o carro de rodas para cima.
Alguns minutos, depois de sair de casa, cheguei ao bairro de
Thales. As casas, algumas mais pobres, com várias coisas velhas na frente,
outras com luxuosos carros na garagem, tomaram conta da minha vista. A casa de
Thales era uma construção bonita, as paredes eram azul-bebê e o telhado e um
marrom claro, um pequeno caminho de pedras levava até a porta da frente. Era de
madeira, cor vinho. As janelas eram de vidro.
Parei o carro junto ao meio fio, quase subindo na calçada.
Antes de descer, passei a mão no meu cabelo castanho, arrumando-o
afeminadamente, para que os fios voltassem em seu lugar. Pisquei os olhos
verdes e sai do carro.
Eu estava usando uma bermuda camuflada, estilo exército, com
um colete jeans, azul, e camisa branca, e coturno. Fui rebolando até a porta da
frente, toquei a campainha e esperei.
Uma mulher alta, negra, com o cabelo estilo africano, usando
um vestido com estampa de vários pássaros e sandálias prateadas, atendeu a
porta. Era a mãe de Thales. Suspirei fundo e senti o suor vender o meu
desodorante.
“Oi, sou o Rafael, o Thales está em casa?” indaguei, da
forma mais formal que eu conseguia. Não me lembrava com o que a mãe de Thales
trabalhava, mas tinha dúvida que era uma mulher importante no mundo dos
negócios, se eu quisesse mesmo namorar o filho dela não poderia chegar no
estilo mano de rua: “e ai sogrinha, meu macho tá no buraco dele?”
Parte da minha roupa, um pouco quente para o clima, era
parte da boa impressão que eu queria dar.
“Ele está no quarto. Que Rafael mesmo?” ele investigou. Seus
olhos castanhos escuros desceram do meu colete até meus tênis. Depois subiu,
com ar de aprovação.
“É o amiguinho do Thah” disse um homem alto, careca, com
óculos finos pendurados no nariz, sobrancelhas grossas. Os braços eram
musculosos. Ele usava uma bermuda e uma camisa, ambos brancos, com sapatos
também brancos. A pele negra dele era igual a de Thales, um pouco oleosa,
naturalmente, e parecia macia, quem sabe até cheirosa?
Amiguinho, repeti
comigo mesmo, dando um sorriso malandro por dentro.
“Deixe ele entrar mulher” mandou o homem, sorrindo para mim
e abrindo a porta de sua casa. A mãe de Thales se afastou, mas não sorriu.
“Eu posso ir lá no quarto dele?” indaguei, ao entrar, não
queria ficar ali, com o clima de conhecendo-os-pais-do-seu-namorado.
“Claro, filho. É o segundo quarto, no andar superior. A
porta de madeira” disse ele, tudo o que eu já sabia. Pois quando eles, os pais
de Thales, não estavam em casa, o gato e o rato faziam a festa.
“Obrigado”, disse, sem olhar para a mãe de Thales.
Entrei no quarto sem bater na porta. Deixei minha
formalidade na sala de estar.
Thales, meu boy magia, estava sentado na cama, com uma caixa
média do seu lado. Algodão e outros utensílios médios estavam espalhados ao seu
lado. O joelho, que ele machucou ao cair da janela do meu quarto, estava com
uma água branca de sangue e exposto sobre o colchão no momento em que entrei
Thales estava passando o algodão molhado com álcool no joelho. Ele fez uma
careta de dor e me olhou. Os olhos verdes me estudaram com frieza, depois
voltou a encarar a cirurgia.
Um rádio de madeira estava tocando baixinho na mesa. Uma
música clássica, o som do violino, manava do rádio. Thales tocava em uma banda
de rock, mas adorava ouvir música clássica. Em sua opinião isso o ajudava a se
inspirar na música. Nunca entendi como ópera inspira Rock ‘n’ Roll.
“O que tá fazendo aqui?” cuspiu ele, sem cerimônia. Os
ombros rígidos, ele não conseguiu aproximar o algodão da ferida.
“Queria ver como você tá”.
“Já viu”.
Ignorei a grosseria e me aproximei da cama. Pegay o algodão,
senti o cheiro forte de álcool, das mãos de Thales. Sem ele dizer mais nada,
comecei a passar o objeto sobre a ferida. Limpando a água com sangue. Ele mordeu
os lábios e ficou em silêncio. Logo depois, de desinfetar, passei uma pomada e
coloquei o curativo sobre o joelho. Tudo levou dois minutos.
“Isso não muda nada” disse ele, fechando a caixa e guardando
tudo. Thales vai até o armário e deixa a caixa lá. Quando ele volta, traz o
notebook. Ele se sentou na cama e abriu o aparelho, depois de ligado, acessa o
site Wattpad e começa a ler uma “fanfic” sobre Harry Potter. Fico olhando o
texto, sem acreditar que alguém possa se achar no direito de escrever uma história
sobre um livro já existente.
Torço o nariz para a tal “fanfic” e paro de seguir a leitura
com Thales, enjoado demais.
“Acho tão idiota isso de ficar estragando a história de uma
pessoa. Se a JK vê uma coisa assim, é possível que ela corte o pulso” disse
rindo.
Thales não parece estar rindo. Ele me encara sério.
“Eu gosto” ele fechou o note e se virou para mim. “Eu quero
ficar sozinho, para terminar de ler e escrever algumas músicas para o festival,
que vai acontecer logo. Posso ficar sozinho?”
Entendo que ele não me queria ali, levantei da cama e sai do
quarto. Não disse tchau e ele também não se despediu. Para minha sorte, no
momento que fui embora, os pais dele não estavam na cozinha. Corri para o
carro, com as lágrimas caindo no rosto.
Eu fui um idiota, jogando Thales da janela do meu quarto.
Agora ele estava com raiva de mim.
Nunca antes, nunca mesmo, Thales me mandou embora sem me dar
um beijo no rosto. Até mesmo no nosso primeiro encontro, quando ele pagou o
algodão doce para mim e disse que estava na hora de ir embora, ele me deu um
beijo no rosto antes de ir. Pelo visto ele estava mesmo magoado comigo.
Liguei o carro limpando o rosto. Tudo o que eu queria era ir
para casa.
Thales realmente estava chateado comigo, ou aquilo que César
disse no dia da festa era verdade. Ele estava saindo com outras pessoas, mais
interessantes do que eu e agora não queria mais me ver. Afastei logo esse
pensamento, e fiz todas as forças para não voltar a pensar nisso, pois meu
peito bateu forte com ele, forte e dolorido.
Amava Thales demais, ele era meu primeiro namorado, não conseguia
ver ele com outra pessoa. Não quando estava, tecnicamente, namorando comigo.
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