NÃO SOU GAY - CAP. 15

     Na mesma semana que meus ensaios começaram, Thales ficou um pouco distante de mim, não só ele se afastou, mas todos os membros de sua banda se dedicaram mais aos ensaios. O festival estava prestes a começar. O pessoal no colégio já estava organizando o auditório e espalhando panfletos sobre quais bandas iriam participar e os horários das atrações.  Não seria apenas bandas de garagem, esse ano o diretor iria dar espaço para, como ele dizia, “todo o movimento cultural”. Em resumo a semana do festival iria ter o concurso da melhor banda, mas teria mímicos, exposição de artes plásticas, dança e por ai afora.

Encontrei com César um dia antes do festival. Ele estava um pouco nervoso, não me respondeu quando indaguei que música iriam tocar. César apenas olhou para mim e ficou em silêncio. Quando estávamos quase chegando no colégio, ele perguntou:

“Vejo que não acreditou em mim quando lhe alertei sobre o Thales. Tá esperando ele te colocar um para de chifres?”. Foi a minha vez de ficar em silêncio.

Thales estava dando duro com a banda, não era provável que o meu namorado tivesse tempo para me trair. Eu levei a sério o que César disse, estava de olho nele. Mas não queria discutir isso com ele, Thales com certeza iria querer saber quem me contou, isso iria implicar em colocar César no meio da conversa. Ele iria brigar com o seu amigo e a banda estaria com problemas, por minha causa. Deixei o assunto de lado, pelo menos por hora.

Recebemos o comunicado na terça-feira, de que: não haveria aula nos outros três dias da semana. Esses dias estavam destinados ao festival. O comunicado dizia também que o festival estava aberto ao público da comunidade. Isso me levou a pensar que o colégio estaria lotado.

Durante o ensaio da peça na terça à noite, Teylon disse que nós deveríamos apresentar alguma coisa no festival. Kamylla¹ logo concordo com ele.

“Não podemos, vamos nos concentrar no Pan. Além do mais, quando verifiquei, o festival já estava com a agenda explodindo de atrações” disse a diretora, suspirando aliviada. Acho que ela não aguentaria nos preparar para duas apresentações.

Esse festival não foi muito significativo para mim, então os dois primeiros dias passaram sem qualquer coisa que realmente me interessasse. A única coisa que lembro, foi a banda de Thales se classificando para a semifinal na quarta-feira, e indo para a final na quinta. Na sexta-feira sua banda disputava o troféu de primeiro lugar com outros garotos. Que na minha opinião, eram melhores que César e Cia.

E isso se mostrou verdadeiro no final da competição, quando a banda mencionada anteriormente ficou em primeiro lugar e Thales ficou em segundo. De onde eu estava sentado o vi sair do palco arrasado, nem mesmo ficou para receber o troféu de segundo lugar.

Corri para ele assim que as pessoas terminaram de bater palmas para o primeiro colocado. Thales estava fora do auditório, sentado no chão com uma cara de poucos amigos.

“Oi, Tha” eu disse, um pouco mais tímido do que eu gostaria. Me sentia mal por ele, mas alguma coisa me impediu de correr até seus braços. Ele estava muito nervoso e isso me deixou cauteloso.

“O que você quer Rafa?” Thales nem ao menos olhou para cima, disse as palavras grosso e curto

“Quero conversar com você, ué”. Fiquei de frente para ele, pensando se deveria me aproximar mais um pouco.

“Não tô afim de papo”.

“Mas pense comigo....

“Rafa, quero ficar sozinho....

“...ficar em segundo lugar é bom. Isso mostra que está quase bom o bastante para ficar em primeiro lugar”,

Thales não disse nada de imediato, ele apenas me encarava, com uma sobrancelha arqueada, como se não estivesse acreditando em nada do que eu estava dizendo.

“Vai se foder” rugiu ele.

Fiquei sem reação olhando-o. O que eu havia feito de tão ruim para ele me tratar assim?

Thales se levantou. Vi o momento perfeito para confrontá-lo, mas de repente percebi que era melhor deixar quieto. Não valia a pena brigar com ele. Sua banda perdeu o festival e ele estava puto com isso.

Thales foi embora. Achei melhor assim.

Olhei para os lados, muitas pessoas passavam pelo corredor, o festival não era exclusivo de bandas, como disse antes, e ainda teria muitas atrações acontecendo na última tarde do festival. Não queria ir para casa assim, me sentindo um lixo por Thales brigar comigo.

Encontrei o pessoal do teatro e juntos ficamos andando pelas atrações do festival. Em algumas horas tinha me esquecido completamente da conversa desagradável com Thales.

 

¹ — mudei o nome Camylla, para Kamylla.

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